Um dos legados mais saborosos do Império Britânico é sem dúvida, o Earl Grey. Um blend (mistura) com base de chá preto que se tornou um clássico, e que possui uma história quase tão interessante quanto sua infusão.
A origem do blend
O Earl Grey, favorito de muitas pessoas por seu delicioso aroma cítrico, possui um frescor ótimo em qualquer hora do dia.
A existência do Earl Grey está repleta de matizes históricos que consolidam a lenda daquele que é, provavelmente, o blend mais popular do mundo.
Originalmente, o Earl Grey era elaborado com chá preto proveniente da China. No final do Século XVIII, a China adotou uma política mais protecionista. Isso desencadeou as Guerras do Ópio, que interromperam o comércio entre China e Grã-Bretanha.
En 1820, os britânicos começaram a produção de chá em larga escala em Assam, e mais tarde, no Sri Lanka. A partir de então, o Earl Grey também começou a ser produzido com essas variedades de chá preto.
Lord Grey, lendas e disputas
É inegável a relação que existe entre a familia Grey e o Earl Grey, mas não está claro como foi exatamente que se estabeleceu esta relação.
A primeira lenda conta que um grupo de diplomatas britânicos, ou o próprio Charles Grey viajaram à China. Ali salvaram um funcionário chinês -ou seu filho, dependendo de quem conte a historia- de se afogar.
Mas o Conde Grey jamais visitou a China e a bergamota não era conhecida pelos chineses, uma vez que, lembremos, ela é originária do Mediterrâneo.
Por outro lado, existe uma lenda que conta que a fusão dos dois ingredientes do Earl Grey foi um acidente. Isso teria ocorrido em um navio durante uma forte tormenta. Ao chegar ao porto, o Conde Grey provou o chá e gostou tanto do resultado que pediu à companhia de chá Twinings replicar a receita.
De fato, Stephen Twining -décima geração de especialistas em chá de sua família- declarou que desejaria voltar no tempo para que sua familia pudesse patentar a receita. Segundo Twining, esta foi cedida pelo então Primeiro Ministro Charles Grey também conhecido como o segundo Conde Grey (Earl Grey).

Varios anos mais tarde, a marca rival Jacksons of Picadilly declarou que em 1830 recebeu a receita através de George Charlton, quem, por sua vez, a havia recebido de um Lord Grey. Esta companhia começou a comercializar o blend en 1836.
Outra das lendas assegura que os ingleses se depararam com a combinação em uma tentativa de imitar o chá preto original de China, como o Lapsang Souchong ou o Keemun.
Mas essa versão é inverossímil porque o aroma de bergamota não lembra nem remotamente os chás procedentes do Oriente. Além do quê, as primeiras versões eram manufaturadas com Keemun.
Existe uma versão similar, um pouco mais crível, de acordo com estudos de pesquisadores do Oxford English Dictionary.
A primeira referência a um chá aromatizado com bergamota data de 1824. Aparentemente era utilizada para dissimular o sabor do chá de baixa qualidade que chegava à Inglaterra.
Porém, de acordo com a família Grey, o blend foi encomendado pelo Conde Grey a um mestre de chá chinês. Seu objetivo era disfarçar o sabor de cal na água da casa familiar, Howick Hall, em Northumberland.
Com a nomeação de Charles Grey como Primeiro Ministro, Lady Grey começou a oferecer esta receita familiar para as visitas que recebia em Londres.
Á que se deve a fama do Earl Grey?
O caráter distintivo do Earl Grey se encontra no óleo essencial de bergamota.
A bergamota é um cítrico com aroma entre o limão e a laranja amarga, que cresce no Mediterrâneo.
A essência de melhor qualidade é extraída dos frutos que crescem na Calabria, no sul da Itália. Mas é muito comum encontrar opções mais baratas provenientes do Brasil, Argentina e Costa do Marfim.
Hoje em dia e por causa da popularidade do Earl Grey, existem outras versões com base de chá verde ou branco. Inclusive existem blends que podem incluir outras ervas como a lavanda e o jasmim.

A bergamota é um cítrico que não se consome cru, mas seu óleo essencial é utilizado na alimentação para saborizar o chá. Também se usa em confeitarias e como essência em perfumes.
Até 1995 era utilizado em cremes solares como acelerador do bronzeado. Inclusive se utiliza em rituais de magia para controlar ou dirigir vontade de outra pessoa.
Possui, por sua vez, um amplo leque de propriedades terapêuticas, sendo por isso utilizada na aromaterapia para reduzir a ansiedade, a depressão, a pressão sanguínea e a frequência cardíaca.
Embora em proporções adequadas seja inócuo, existem registros de intoxicações. A mais conhecida é a de um australiano que reportou tomar mais de quatro litros de Earl Grey por dia.

Variações do Blend Earl Grey
Uma curiosidade sobre este blend, é que tem suas próprias variações. Isso é por causa de sua grande popularidade, o que estimula as pessoas e as marcas a criarem suas próprias receitas.
Charming Earl Grey: É uma variação composta por chá preto, bergamota, pétalas de amaranto e uma pitada de mandarina.
Blue Earl Grey: Esta variação é muito similar à original, mas possui também flores de aciano. Estas tem uma cor azul que tornam este chá muito agradável também aos olhos.
Smokey Earl Grey: como seu nome indica, esta variação do tradicional Earl Grey é defumado. Há rumores que tenha sido um pedido de outro Conde Grey que o mesmo blend fosse defumado.
Lady Grey: Este blend é igual ao blend original mas contém óleo de bergamota em menor proporção. Além disso costuma ter casca de limão e laranja amarga.

London Fog: um Earl Grey reforçado
Embora seu nome lembre a característica névoa londrina, neste caso falamos de uma bebida. O London fog, ou Vancouver fog na Escócia, é uma bebida à base de Earl Grey que contém leite vaporizado e xarope de baunilha.
Enquanto a origem do Earl Grey é desconhecida, é bem sabido quem é a criadora do London fog: seu nome é Mary Loria. De acordo com sua historia, durante a década de 90 Mary frequentava o Vancouver’s Buckwheat Cafe.
Nessa época, ela estava grávida de seu primeiro filho e estava em busca de um substituto para seu café matutino. Conta então, que pediu que seu Earl Grey fosse preparado com leite vaporizado ao barista, que, um pouco cético, concordou. Assim que recebeu sua bebida, Mary se aproximou da mesa de toppings e adicionou o xarope de baunilha à gosto.
O resultado foi tão bom que Mary recomendou a bebida aos seus amigos e começou a pedi-la em outros cafés perto de sua casa. Espontaneamente, a moda se espalhou e foi adotada por marcas como Starbucks e Second Cup.

Coquetéis com Earl Grey
Por ser um chá extremamente aromático, o Earl Grey se tornou um chá muito apreciado para a coquetelaria.
A seguir compartilhamos duas receitas para que você possa provar em coquetéis.
Earl Grey MarTEAni por Liquor.
Ingredientes:
- 4.5 partes de gin infusionado com chá
- 2 partes de suco de limão
- 3 partes de xarope de açúcar
- Uma clara de ovo
- Açúcar e casca de limão para decorar
Preparo
- Umedecer ligeiramente as bordas de uma taça tipo coupé ou de Martini. Polvilhar com açúcar para decoração.
- Agregar todos os ingredientes em uma coqueteleira sem gelo e agitar vigorosamente por pelo menos 10 segundos.
- Adicionar o gelo e agitar novamente até que fique bem gelado.
- Colocar a mistura na taça e decorar com a casca do limão. Desfrutar.
British Sunset por Victoria Bisogno.
Ingredientes:
- 2 partes de gin.
- 3 partes de Earl Grey gelado
- 1 dash de xarope cítrico.
- Umas gotas de Bitter Orange.
- Pimenta negra moída.
- Casca de laranja flambada.
- Taça de Martini.
Preparo:
- Esfriar os ingredientes em um copo de composição cheio de gelo.
- Antes de servir na taça de Martini previamente fria e com o cuidado de escorrer o gelo, passe um pedaço da casca de laranja pelas bordas da taça. Isso irá aromatizar o drink com os óleos essenciais da laranja.